quinta-feira, 23 de maio de 2013

"Ta ficando bom, mas vai ficar melhor" - Em busca da identidade negra!


Em busca de um lugar ao sol, a procura de uma identidade que permita se enxergarem dignamente, os negros brasileiros, principalmente os jovens, tem procurado romper com a triste herança histórica e o preconceito. É possível dizer nos dia de hoje,  que existe uma parcela de negros que tem subvertido todo esse contexto desfavorável , ocupando lugares de destaque nas universidades, grandes cargos em corporações,  e até mesmo em cargos públicos.
Apesar de saber que esse número são infelizmente uma pequena parcela dentro do país, muitos tem aberto o caminho em direção a uma nova realidade. O preconceito e a falta de oportunidade cegam os sonhos mais bonitos daquele jovem “preto do morro” ,  e as pessoas que se dizem “de bem” se distanciam tanto, que parece que ele nunca vai poder crescer dignamente na vida. O fato que a nossa identidade tem se perdido no caminho, não sabemos quem somos, por isso não sabemos para onde ir. É uma triste verdade mas , muitos dos nossos negros não se valorizam como pessoa(digo por experiência própria), não acreditam em seu potencial, seus talentos, alguns até desacreditam de sua capacidade intelectual, claro, a culpa não é só deles, mas aqueles que escolhem “se expor” e mostrar à sociedade seu potencial, constroem um caminho promissor contribuem para o crescimento do país.
Homens como Joaquim Barbosa, o primeiro ministro reconhecidamente negro no supremo Tribunal Federal,  Martin Luther King, Oprah Winfrey, Nelson Mandela. Na música, (que vai faltar espaço...): Ray Charlles, Elza Soares, Gilberto Gil, Stevie Wonder, Emilio Santiago, Jorge Bem Jor entre muitos outros. Isso sem falar dos músicos desta geração como Seu Jorge, Ellem Oléria, Nívea Soares, Rappin Hood, Emecida (representando uma gama enorme de negros na cena do rap nacional), Marcela Vale,  Negra Lee e por ai vai, tem muita preto fazendo barulho no país, gente que construiu uma nova história redescobrindo sua identidade. E reforçando mais ainda esse nosso passado que é grande parte de tristeza mas que é cheia de samba, de música de roda, de canção que é trilha para os bons e maus momentos da vida. A música sempre esteve no sangue do negro brasileiro, os pioneiros na construção da nossa cultura musical.
E eu, como menino de cor que sou...Rsrs. Não escapei dessa vontade de cantar a vida. Resisti por alguns anos, mas o prazer de produzir arte, desenhar,  compor, tocar instrumento, foi mais forte. Em determinado momento da minha caminhada eu escolhi romper comigo mesmo, e me despir desses problemas de identidade, do medo de mostrar quem eu sou, resolvi então abrir a janela e mostrar o timbre da minha canção, o teor da minha poesia, neste período, eu me redescobri como pessoa, até minhas perspectivas sobre quem é Deus se ampliaram. Os amigos Thiago Celeste, Fabio Huck, Felipe Gomes, hoje são cúmplices dessa janela aberta que sou hoje, com a banda que formamos, chamada  Carta de Rua (curiosamente...rs), todos temos a oportunidade de fazer arte sem pensar em nos justificar e sem medo de mostrar quem somos. Tudo se completou, a partir dai, a vontade de subverter o mundo e seus equívocos, foi ainda maior.
Quando quisermos, se assim quisermos, como diz a canção de Marcela Vale, podemos mudar a realidade da nossa terra, usando a arte, o design, a medicina (sim, a medicina), os ofícios, os cargos, a academia, enfim, todos esses meios disseminadores de bons exemplos. Os muros são altos, por isso façamos nossa trajetória escolhendo o caminho! Deus está com eles, mas com a gente também.








Testando (Ellen Oléria, 2012)

Alô alô som Teste! um, dois, três, (vocalização)
Alô alô som Teste! um, dois, três, testando ! x 2
Eu, eu não domino a esgrima
Mas minha palavra,
a minha palavra, a minha palavra é afiada e contamina
Minha ginga, meu jeito, minha voz que vem do gueto
Minha raça, minha cara, tua cara a tapa, o meu cabelo crespo
Não ponho na chapa, aguenta a minha marra
Teu cartão não me paga
Minha ancestralidade no peito eu não tô te vendendo.. Há
Quem batize minha postura pura malandragem
Mas minha superação foi com muita dificuldade
Não é contando por contar, não é por vaidade
Mas peito pra encarar a vida louca com coragem
Não é pra qualquer um, minha mãe é minha testemunha
o preço, o zelo, o descontentamento
Muita frustração, sem inspiração, sem passe e sem pão
é Mãe não se preocupa eu dou meu pulinhos, eu dou meu jeito
Eu sempre me virei e é claro eu precisei de ajuda
conhece a carne fraca? eu sou do tipo carne dura
Tem gente boa no mundo isso eu já sei
Também vi o lado violento dos que não temem a lei
Tanto faz lei divina, tanto faz lei dos homi
Não importa por roupa chique ou dar seu sobrenome
A mulherada já sabe o cotidiano da rua
Anoiteceu sozinha cê não tá segura
Alô alô som Teste! um, dois, três, (vocalização)
Alô alô som Teste! um, dois, três, testando ! x 2
Suor e choro a noite é fria
Pra esses lances ninguém nunca está preparado
Depois de um dia duro meu corpo foi travado
Assalto a mão armada
Levaram um violão, o microfone emprestado
eu chorei, eu chorei
A bandidagem não acompanhou a estereotipia...
Três garotos tipo de uns 15 anos
Eu nunca vi na área esses garotos brancos
Duas meninas loiras com boné cor de rosa
Reescrevendo as linhas da conhecida história
Todo mundo conhece essa história, eu já falei
sobre isso também e ela é mais ou menos assim:
Andando na rua de noite muita gente branca já fugiu de mim
A minha ameaça não carrega bala mas incomoda o meu vizinho
O imaginário dessa gente dita brasileira é torto
Gritam pela minha pele, qual será o meu fim?
Eu não compactuo com esse jogo sujo
Grito mais alto ainda e denuncio esse mundo imundo
A minha voz transcende a minha envergadura
Conhece a carne fraca? eu sou do tipo carne dura
Alô alô som Teste! um, dois, três, (vocalização)
Alô alô som Teste! um, dois, três, testando ! x 2
Tá ficando bom mas vai ficar melhor....
Tá ficando bom mas vai ficar melhor....
Tá ficando bom , Tá ficando bom (vocalização)...
Tá ficando bom mas vai ficar melhor....
Tá ficando bom mas vai ficar melhor....
Tá ficando bom , Tá ficando bom (vocalização)...

Basalto que emana dos meus poros
A minha consciência é pedra nesse instante x3
Basalto que emana dos meus poros
A minha consc.. consc. consciência NEGRA






Nívea Soares (Sobre as águas)

Estar aqui é sempre tão difícil

Olhar em volta e não ver mais que a escuridão

As ondas vem a cada dia sobre mim

Ventos incessantes não me deixam descansar
Mesmo assim estou de pé
Não tenho nada além de um sonho e uma inesgotável fé
Isso me faz insistir em estar aqui
Você sabe, eu quero fazer mais que apenas viver

Eu quero andar sobre as águas sem medo de me afogar
Mesmo que os ventos me façam tremer
Olhando em teus olhos
E segurando em Tuas mãos, eu sei que está tudo bem
As ondas tentam me desesperar, me desacreditar
Os ventos dizem que tudo isso é bobagem
E o que vale é a realidade
Mas em Tuas mãos eu posso ter
Força pra seguir e não olhar pra trás
Só quero ouvir Tua doce voz a me dizer:
"Vem sem medo, vem!"

Eu quero andar sobre as águas sem medo de me afogar
Mesmo que os ventos me façam tremer
Olhando em teus olhos
E segurando em Tuas mãos, eu sei
Sim, eu sei, não é ilusão
Eu sei que nossos sonhos são reais
E quando tudo parecer tão frio e só
Me leve em Teus braços e me faz descansar

Eu quero andar sobre as águas sem medo de me afogar
Mesmo que os ventos me façam tremer
Olhando em teus olhos
E segurando em Tuas mãos, eu sei que está
Tudo bem!






quinta-feira, 16 de maio de 2013

Poesia 2 - "Amar é mudar a alma de casa" - Mario Quintana



Amar é mudar a alma de casa,
é ter no outro, nosso pensamento.
Amar é ter coração que abrasa,
amar, é ter na vida um acalento.

Amar é ter alegria que extravasa,
amar é sentir-se no firmamento.
"Amar é mudar a alma de casa",
é ter no outro, nosso pensamento.

Amar, é aquilo que embasa,
é ter comprometimento.
Amar é, voar sem asa,
e porque amar é acolhimento,
"amar é mudar a alma de casa"



quarta-feira, 15 de maio de 2013

Não é difícil, está dentro de nós! - Mallu Magalhães e a sinceridade.

Um apelo à sinceridade. As pessoas podem ser julgadas pelas suas más ações ou por escolhas
equivocadas, mas a sinceridade de suas atitudes dificilmente serão, ainda que possam gerar em fins rocambolescos. Fazer de si este livro aberto, revela aos outros e a si mesmo uma imagem transparente de quem se é, e mais uma vez isso se reflete na arte em que fazemos. Desenvolver uma arte que é o reflexo daquilo que pensamos e fazemos é a chave para um trabalho promissor e consistente. Ao ouvir as canções de Mallu Magalhães é possível perceber isso de forma muito clara, seu último disco “Pitanga”, pontua seus dilemas e indagações a respeito  de sua personalidade, pessoalidade, maturidade, abrindo seu coração quase sempre para seus amores, seus valores e crenças.  Segundo ela mesma: “Eu e Marcelo temos isso em comum, prezamos muito por expressar sinceridade em nossa música.”. E de fato, nunca conheceremos Mallu de verdade somente por ouvir suas canções, mas a sensação que se tem é que a conhecemos intimamente quando a ouvimos, mais uma vez o poder revelador  da arte.

Quando é que passaremos a produzir uma música que revele nossa vida, nosso cotidiano e nosso pensamento de maneira sincera e transparente? Até quando nos esconderemos nas interpretações padronizadas dos líderes da música, sem fazer uma reflexão sobre nossa identidade e sobre o que e como queremos expressar nossa arte ao mundo. É preciso sair da caixa e se despir dessa cultura imposta. Vamos nos vestir de brasilidade e se encaixar dentro daquilo que faça sentido para nós como cidadãos brasileiros, com vontade de criar uma arte cheia de verdade. Vá para rua e enxergue como a vida roda e comece a criar. Vamos! Não é difícil, está dentro de nós!

Ouça a confissão sincera de Mallu Magalhães e sua projeção sobre sua própria maturidade na canção “Velha e Louca”, aproveite!





Velha e Louca (Mallu Magalhães, 2012)

Pode falar que eu não ligo,
Agora, amigo,
Eu tô em outra,
Eu tô ficando velha,
Eu tô ficando louca.
Pode avisar que eu não vou,
Oh oh oh...
Eu tô na estrada,
Eu nunca sei da hora,
Eu nunca sei de nada.
Nem vem tirar
Meu riso frouxo com algum conselho
Que hoje eu passei batom vermelho,
Eu tenho tido a alegria como dom
Em cada canto eu vejo o lado bom.
Pode falar que eu nem ligo,
Agora eu sigo
O meu nariz,
Respiro fundo e canto
Mesmo que um tanto rouca.
Pode falar, não importa
O que tenho de torta,
Eu tenho de feliz,
Eu vou cambaleando
De perna bamba e solta.
Nem vem tirar
Meu riso frouxo com algum conselho
Que hoje eu passei batom vermelho,
Eu tenho tido a alegria como dom
Em cada canto eu vejo o lado bom.
Nem vem tirar
Meu riso frouxo com algum conselho
Que hoje eu passei batom vermelho,
Eu tenho tido a alegria como dom
Em cada canto eu vejo o lado bom.




segunda-feira, 13 de maio de 2013

Quem é que pode cantar a Boa Nova?


Por algum motivo, tem gente que aprendeu a conviver com o mundo de uma maneira que o sujeito mais religioso ainda não aprendeu. Subverter certas questões complicadas do dia a dia, a falta de amor, o stress no trânsito, o individualismo, a ganância e tantos outros amigos do ego humano. Em meio a um mundo que não conhece mais quais são de fato seus valores, existem pessoa que escolheram andar por um caminho sóbrio, com um senso de moralidade muito coerente,  mas não oriundo diretamente de uma religião ou credo. É só abrir os olhos, vez ou outra é possível se enxergar como alguns tem escolhido viver, valores que vão além de uma cosmovisão programada, que foram sendo construídos por uma questão de reflexão sobre a vida, de querer com que seu mundo tenha uma harmonia própria, fazendo com que a vida siga em  paz. De onde vem esta vontade?

É certo que a Boa Nova (cristianismo)  possui valores intelectuais e relacionais muito pertinentes, presando pelo amor sincero entre as pessoas e o esforço para não entrar em conflitos sejam eles quais for. Mas não se pode fugir de um fato triste porém real, tem gente que transformou essa tal Boa Nova em um discurso tão cheio de ego e interesse, que amor e a paz citados acima parecem ser uma falácia desmedida. Porém, em meio a isso tudo de forma despretensiosa, no meio das artes, tem gente fazendo canção de despertar. Seria a transcendência? Pensamentos contidos nas Escrituras Sagradas que por algum motivo se refletem na arte de muitos, artista que não possuem nenhuma confissão religiosa ou interesse direto com tal discurso.

Existem muitos artistas cantando a Boa Nova “sem querer cantar, cantando”, transformando, renovando sua mente  e fazendo arte pra quem quiser ouvir. Como no trecho da canção que ouviremos:  "Eu que já não quero mais ser um vencedor, levo a vida devagar pra não faltar amor...”. Ouçam “O vencedor”, o evangelho segundo Camelo, em uma apresentação impar.






O Vencedor (Marcelo Camelo)

Olha lá, quem vem do lado oposto
Vem sem gosto de viver
Olha lá, que os bravos são
Escravos sãos e salvos de sofrer
Olha lá, quem acha que perder
É ser menor na vida
Olha lá, quem sempre quer vitória
E perde a glória de chorar
Eu que já não quero mais ser um vencedor
Levo a vida devagar pra não faltar amor
Olha você e diz que não
Vive a esconder o coração
Não faz isso, amigo
Já se sabe que você
Só procura abrigo
Mas não deixa ninguém ver
Por que será?
Eu que já não sou assim
Muito de ganhar
Junto às mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
Só pra viver em paz