quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Música na rua?...Traduzir para conquistar!


O conteúdo de muitas canções hoje, tem se tornado alvo de muitos comentários, o advento do funk por exemplo, que vem rompendo uma série de decoros, é um ótimo exemplo. Outro fenômeno polêmico  e cheio de controvérsias, é o gospel, carregando um discurso de ter seu conteúdo exclusivamente voltado a valores bíblicos e cristãos, de fato, um parte há coerência naquilo que se canta dentro dos templos, nos ajuntamentos, nos CDs que são vendidos, mas não se pode esquecer de um detalhe importantíssimo, algo que Rookmaaker em seu livro “A Arte Não Precisa de Justificativa”repisa sem dó, que é a tradução daquilo que se encontra nas Escrituras Sagradas para este “outro lado” que chamamos de mundo. Marcos Almeida do site “Nossa Brasilidade” já dizia em uma rede social:

“Todos nós sabemos disso. No Brasil, o Gospel é uma Grife.”

Fato verdade. Este “estilo” que tem crescido mais a cada dia, se tornou música de massa, as letras saem da nossa boca involuntariamente. Infelizmente junto com isso, a musica gospel se tornou um mercado carnívoro, isso não é de tudo ruim, mas o que deveria ser essencial em um discurso que carrega valores como vida eterna e amor infinito de Deus, pode se limitar tanto criativamente, se entregando a letras que se repetem de mais e assim criando uma cultura de cristãos mal instruídos. Não estou dispersando o que o gospel construiu até aqui, mas, com o tempo ele se vendeu a uma postura que deixa a desejar em muitos aspectos. Todavia o que quero falar aqui é sobre a segregação que esse seguimento faz da música.

Será que existe ou existiu, a necessidade de se separar da musica de rua?  De tornar o nosso discurso diferenciado por ter um “conteúdo sagrado”? Muitos não entendem a postura dos cristãos justamente por isso. Nadamos tão fundo em nosso próprio “aquário” que nos esquecemos de olhar para o “rio grande”, nos esquecemos que muitos não entendem nossas letras dotadas de fogo e espiritualidade, e mais, muitas canções evangélicas não podem ser cantadas em bares , ou em festas, ou até estarem na boca de um descrente, porque a canção é “santa de mais” para tal. A música é um bem comum a humanidade, e todos podem apreciá-la de maneira despretensiosa, sem querer especificamente fazer parte de uma filosofia. Alguns dirão que a culpa é da incoerência entre o discurso e a pratica do cristianismo que afasta as pessoas da música cristã, mas não é somente isso, é muito mais uma questão de falta de bom senso, é uma certa indisposição de refletir sobre o conteúdo da própria letra criada, se esquecendo de que a boa poesia que fala sobre a simplicidade da vida cotidiana é descrita largamente na bíblia. Poucos são aqueles que têm a coragem de subverter esta formula química que o gospel se tornou, definitivamente a vida é mais do que momentos de pura experiência espiritual dentro de quatro paredes, há muito mais pra se observar, o amor descrito em 1Co.13 pode ser expresso artisticamente de várias maneiras.

 Uma frase do historiador da arte Rookmaaker pontua este descompromisso  de forma muito direta:

“O significado da vida cristã foi rebaixado à vida devocional”.

Aprendemos a guardar o Amor que recebemos dentro de uma caixa, nas quatro paredes do templo. E não falo apenas de deixar de compartilhar a Boa Nova, mas de todo um estilo de vida cristã forjada, sem “Verdade no Olhar” (música da banda Crombie), com medo de pensar e aprender a subverter o mal de forma inteligente e criativa. Naturalmente isso se reflete em todo um campo de relações, inclusive nas artes.

Que cheguem os dias e as noites em que poderemos “brincar” de mudar o mundo com as artes, criando a canção comum ao homem que precisa de amor, e que ele entenda e se identifique de forma humana, sem religiosidade irracional. Alguns já foram . Partiu?

Um comentário:

  1. "Penso que devemos participar desses debates como parte do mandato que recebemos para que cuidássemos e nos preocupássemos com o mundo, e não por causa do mandamento de fazer discípulos. Não estamos participando de debates para dizer às pessoas no que devem crer. A arte tem a tendência de mostrar, em vez de dizer. Concede às pessoas a oportunidade de experimentar outra forma de ver o mundo. Contudo, se não estamos presentes nas artes, negamos às pessoas a oportunidade de deparar-se com nossa perspectiva.
    O artista cristão muitas vezes será aquele que irrita, que inquieta a visão antropocêntrica do mundo para a qual a natureza caída tende naturalmente. Assim como as pessoas pensam que afastaram Deus de todas as considerações de uma questão específica, o cristão, irritantemente, coloca-o de novo em pauta, de algum modo. E quando Deus está de volta à pauta, as pessoas são forçadas a relacionar-se com ele, ainda que apenas para tentar marginalizá-lo novamente."

    Do livro "Cristianismo Criativo"

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